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"Estrela e Bicha" na rua Sacadura Cabral

Mais uma vez, tentando achar no Google Street View onde seria a casa no Morro da Conceição de um post anterior, fiquei vasculhando as cercanias da Pedra do Sal e do Valongo, e olha o que eu achei no caminho, na rua Sacadura Cabral, também na zona portuária (infelizmente em estado lastimável!):

rua Sacadura Cabral 139




Sim, um velho conhecido nosso aqui do blog! O azulejo de padrão "Estrela e Bicha", também conhecido como "Bicha da praça" em Portugal.

prédio na rua Visconde do Rio Branco


prédio na rua Visconde do Rio Branco

Pelo visto, este azulejo que é tão comum em Portugal, também veio em grande quantidade para o Rio de Janeiro, e felizmente, a cada dia, vou descobrindo que ele ainda está por aqui em várias casas.

A única dúvida que fica é: seriam estes azulejos realmente portugueses, ou holandeses? A questão foi colocada quando anos atrás eu fiz um curso intensivo sobre história dos azulejos e azulejos antigos no Brasil, da professora Dora Monteiro e Silva de Alcântara, a maior entendida no assunto no Brasil, e mesmo muito respeitada e solicitada em Portugal. Ela nos mostrou cópia de um catálogo de uma fábrica holandesa do século XIX, onde este padrão aparece reproduzido.



Centenas de cacos de azulejos com este padrão apareceram em grande quantidade em uma escavação arqueológica no Centro do Rio de Janeiro, misturados a diversos outros cacos com padrões variados, todos segundo a professora Dora Monteiro, de origem holandesa (em breve farei um post com fotos destes cacos). E realmente pudemos identificar muitos destes padrões nas páginas do mesmo catálogo ilustrado acima.

Uma coisa que já pude perceber é que há por aqui azulejos com este padrão tanto pintados à mão livre, quanto através do uso de estanhola (estampilha, molde vazado). Não sei se necessariamente isto seria uma indicação de nacionalidade, ou apenas de época ou de diferentes fábricas de um mesmo, ou de ambos países.

Então, volto a pergunta -- seriam os azulejos "Estrela e Bicha" do Rio de Janeiro portugueses, ou holandeses? Não me espantaria em descobrir que há azulejos "Estrela e Bicha" de ambas nacionalidades espalhados pela cidade.

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Atualização em 15 de julho de 2012:

Em função do comentário do Luís, e minha resposta, achei interessante trazer fotos em close-up dos azulejos "Estrela e Bicha" de dois prédios diferentes, para ilustrar o que comentei, sobre alguns serem claramente pintados à mão, com muita variação no desenho e tonalidade da tinta, e outros serem pintandos com estanhola (estampilha), e por isso, bem regulares.

Rua do Rosário n° 97

Os azulejos abaixo são do pavimento térreo. Veja como são regulares, e ainda por cima, com uma tonalidade de azul mais clara, menos saturada, mais "lavada":



Rua do Rosário  n° 34


Os azulejos deste (lindo) imóvel, que atualmente é uma encantadora brasserie, são todos visivelmente pintados à mão livre, apresentando muita variedade de tons, desenho, peso da mão, etc. Eu prefiro assim, com todas as desigualdades, que nos permitem sentir que várias pessoas dedicaram tempo e suor para que hoje possamos gozar do prazer de admirar estes belos azulejos.


Agora, o mais curioso, é que os azulejos dos pisos superiores do imóvel na rua do Rosário n° 97 são pintados à mão livre. Me ocorre uma hipótese: No Rio há imóveis de mais de um pavimento com azulejos às vezes apenas no piso térreo, e às vezes apenas no(s) piso(s) superiores. Quem sabem, este imóvel da rua do Rosário n° 97 originalmente tinha azulejos apenas nos seus dois pisos superiores, e tempos depois, resolveram azulejar o piso térreo também, e daí foram empregados azulejos mais recentes, e talvez, holandeses, ao invés de portugueses, como parece estar claro nos pisos superiores, onde inclusive me parece que a cercadura é mais compatível com os azulejos centrais.

primeiro piso, rua do Rosário n° 97. Aqui os azulejos são pintados à mão livre,
e  são emoldurados por azulejos de cercadura que parecem  mais compatíveis com o padrão central.

4 comentários:

  1. Caro Fábio

    Ainda há uns tempos ajudei a colocar mais de uma centena de azulejos desses na cozinha do Manel e posso-te afiançar que os bicha-da-praça que mostras são portugueses. Julgo que num passado remoto, as fábricas portuguesas copiaram um padrão holandês. Mas os azulejos holandeses são sempre mais perfeitos que os portugueses, a cor é igual de azulejo para azulejo e notam-se logo que são diferentes dos lusitanos, em que a cor nunca é igual e sempre cheios de irregularidades.

    Abraços lisboetas

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    Respostas
    1. Eu cá prefiro que sejam portugueses, e nem preciso explicar o porquê! :-)
      Os da r. Sacadura Cabral eu não posso dizer nada, pois ainda não estive lá, e as imagens do Google Street View são muito ruins.
      Os da rua Visconde do Rio Branco eu preciso refotografar com minha máquina melhor, para poder ver com um zoom mais potente, mas o que eu acho curioso são os demais azulejos, em torno do "bicha da praça (ou estrela)", que não me parecem portugueses. Ao menos, não me lembro de tê-los visto em Portugal nas minhas andanças, mas isso você é que pode me dizer melhor, pois sabe milhões mais do que eu.
      Mas no caso específico do prédio de 3 pavimentos da rua do Rosário, que publiquei no outro post, o que me intriga nos azulejos "bicha e estrela/da praça" dos 2 pavimentos inferiores, ao menos, é justamente que eles são MUITO regulares, no desenho, que certamente foi executado usando-se estanhola (estampilha, molde vazado), e além disso, a cor é MUITO regular, e mais claros na tonalidade de azul do que eu vi muito em Portugal, e mesmo nos outros prédios aqui mesmo no Rio. Eu acho que estes podem ser holandeses, até pelos que fazem borda, que são certamente de outra nacionalidade, que não Portuguesa.
      Como se importava de Portugal, Holanda, França, Inglaterra e Alemanha, e eram vendidos todos nas mesmas revendas, é bem provável que o sujeito quando ia comprar azulejos para seu prédio, não estava preocupado em saber origem, muito menos preocupado em só usar azulejos de um mesmo país na fachada de sua casa. E daí, essa misturada que estamos vendo nos posts que venho fazendo.
      e pelo visto, o gosto aqui era mesmo misturar o máximo de padrões em um único prédio. Aguarde pois há 2 sobrados geminados que só tem azulejos no pavimento inferior, e mesmo assim cada um tem pelo menos 4 ou 5 padrões misturados. Vocês vão ficar estupefatos com o "mix" que o povo fazia por aqui, na hora de aplicar azulejos!
      Como era uma coisa nova por estas terras, sem o peso de uma gramática imposta pela tradição e costume, fizeram a festa!
      abraços

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  2. Fábio

    Quando ajudei a colocar os azulejos do Manel pude constatar que existiam azulejos de diferentes dimensões, texturas e cores desiguais, o que me levou a presumir que aquele motivo foi fabricado durante muito tempo, sofrendo alterações aqui e acolá e que talvez tenha sido produzido por mais que uma fábrica portuguesa-

    abraços

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    Respostas
    1. Ah sim, certamente este padrão deve ter sido produzido por longotempo, e por diversas fábricas, visto a grande quantidade deles em Portugal, e mesmo aqui no Brasil, com variações de cor, traço e tamanhos, tanto aí como aqui.
      abraços!

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